Mata Atlântica: patrimônio biológico e cultural
Uma análise sobre o contexto socioambiental da Mata Atlântica no Extremo Sul da Bahia
A Mata Atlântica é considerada por pesquisadores e organizações ambientalistas como área de importância prioritária para conservação, classificada como hotspot, ou seja, um dos biomas mais ricos em biodiversidade e mais ameaçados do planeta, que é reconhecido também, como Reserva Mundial da Biosfera pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), e na Constituição Federal de 1988, a Mata Atlântica é reconhecida como Patrimônio Nacional.
O atual contexto socioambiental neste bioma configura-se de modo alarmante, através do contraste entre a diversidade de fauna, flora e bacias hidrográficas, em relação a dimensão dos impactos causados pelas atividades antrópicas nos últimos anos. Originalmente, a Mata Atlântica se estendia por aproximadamente 15% do território brasileiro, entre os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo. Atualmente, sobrevive em menos 100 km2, através de 7,61% da sua extensão original, o que significa o desmatamento de aproximadamente 93% de todo bioma (Capobianco, 2004, p.165).
Desse modo é possível firmar, que um patrimônio biológico imensurável foi perdido durante cinco séculos de exploração, e o que ainda existe dessa natureza quase desconhecida (em termos de biodiversidade), encontra-se sob ameaça real de extinção.
Porém apesar da destruição superior a 90% do território original, novas espécies vêm sendo encontradas, e também, sobreviventes de um longo processo de colonização, a exemplo de um exemplar de Pau Brasil, que é apontado como maior e mais antigo do país (com idade estimada em 600 anos), encontrado nas delimitações de um projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS)[3] do MST, na zona rural de Itamarajú (BA), local onde também foram encontrados outros 800 pés da espécie nativa.
Esta descoberta, revela um pouco sobre da diversidade de espécies endêmicas que se encontram severamente ameaçadas de extinção, em função do processo de degradação da Mata Atlântica. Quase “três quartos de todas as espécies oficialmente reconhecidas como ameaçadas no Brasil tem seu habitat” localizado neste ecossistema (Bright/Matton 2001, apud, Gayer, 2004, p. 550).
“O nível de endemismo cresce significativamente quando separamos espécies da flora em grupos, atingindo 53,5% para espécies arbóreas, 64% para as palmeiras e 74,4% para as bromélias. Dentro da riquíssima fauna existente na Mata Atlântica, algumas espécies possuem ampla distribuição, podendo ser encontradas em outras regiões, como são os casos da onça pintada, onça parda, gatos-do-mato, anta, cateto, queixada, alguns papagaios, corujas, gaviões e muitos outros. O que mais impressiona, no entanto, é a enorme quantidade de espécies endêmicas, ou seja, que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do Planeta. São os casos das 73 espécies de mamíferos, entre elas 21 espécies e subespécies de primatas e das 160 espécies de aves. Entre os anfíbios o número é ainda mais surpreendente: das 183 espécies catalogadas, 91,8% são consideradas endêmicas. Comparada com a floresta amazônica, a Mata Atlântica apresenta, proporcionalmente, maior diversidade biológica. No caso dos mamíferos, por exemplo, estão catalogadas 215 espécies na Mata Atlântica, contra 353 na Amazônia, apesar desta ser quatro vezes maior do que a área original da primeira (Capobianco, 2004, p.165)”.
Sendo assim é importante destacar, que a degradação deste patrimônio biológico não é prejudicial apenas para fauna e flora, gera impactos também na reprodução econômica, social e cultural das cidades, povoados, comunidades rurais, indígenas, quilombolas, setores agrícola, turístico, industrial e dentre outros seguimentos que dependem dos recursos e serviços ecossistêmicos, responsáveis por formar belas paisagens naturais, ofertar produtos extrativistas e controlar o fluxo dos mananciais hídricos, além de equilibrar o clima atmosférico, a fertilidade do solo, e proteger as encostas, serras, escarpas e rios, contra deslizamentos e a erosão da terra.
Do equilíbrio ecológico na Mata Atlântica, dependem os principais rios e afluentes responsáveis por abastecer diversas cidades brasileiras, beneficiando aproximadamente 120 milhões de pessoas. Dentre eles, os rios Paraná, Tietê, São Francisco, Doce, Paraíba do Sul e Paranapanema. Na região Extremo Sul da Bahia por exemplo, destacam-se os rios Jequitihonha, Jucuruçu, Buranhém, João de Tiba, Itanhém e dentre outros. Portanto, é possível afirmar que este bioma “possui uma importância enorme, exerce influência direta na vida de mais de 80% da população brasileira que vive em seu domínio” (Capobianco, 2004, p.165).
Porém, ainda assim o desmatamento continua se desenvolvendo initerruptamente ao longo dos anos. No Altas da Mata Atlântica de 2015/2016, O Estado da Bahia está na 1º posição do ranking nacional do desmatamento, com o registro de 12.288 hectares suprimidos, um crescimento de 207% se comparado ao levantamento anterior. Entre os dez municípios que mais desmataram até o período observado, destaca-se a região extremo sul do Estado, com Santa Cruz Cabrália ocupado a 1º posição com 2.119 hectares, depois Belmonte em 2º lugar com 3.058 hectares.
Analisando o Atlas de 2018 e 2019, observa-se que neste período foram desmatados 14.502 hectares, um crescimento de 27,2%, se comparado ao período de 2017 e 2018, quando foi suprimida uma extensão de 11.399 (ha). No referido levantamento, o Estado da Bahia ocupou a 2º posição no ranking nacional, registrando 3.532 (ha) desmatados, o que representa um expressivo crescimento de 77%, com Porto Seguro ocupando a 6º posição entre os 10 municípios brasileiros com maior índice de desmatamento, com 240 (ha), sendo acompanhado no Sul da Bahia pela cidade de Santa Luzia, na décima posição do ranking nacional com 193 (ha).
Os números demostrados são preocupantes porém a situação já esteve pior. Analisando o histórico do desmatamento desde a década de 1980 pelo Atlas da Mata Atlântica, percebe-se, que somente a partir do biênio 2008/2010 houve uma redução na área degrada, com o registro de 30.366 hectares suprimidos. Se comparado às décadas iniciais do levantamento, 2018 e 2019, representa um decréscimo expressivo, justamente por não haver mais neste contexto grandes extensões de floresta para serem exploradas como havia sido registrado por exemplo, entre 1985 a 1990, um desmatamento de 536.48 hectares:
Imagem 2: Fonte — endereço virtual (acessado no dia 19/02/2021): https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fbr.pinterest.com%2Fpin%2F685954586967784488%2F&psig=AOvVaw165maVEuE6sxzd5NLMHbRb&ust=1619823671448000&source=images&cd=vfe&ved=0CA0QjhxqFwoTCJCc2sjHpPACFQAAAAAdAAAAABAY.
Imagem 3: Fonte — O ECO endereço virtual (acessado no dia 19/02/2021): https://www.oeco.org.br/reportagens/pau-brasil-com-mais-de-600-anos-e-descoberto-no-sul-da-bahia/
Imagem 3: Fonte — Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. 2020, p. 35. ATLAS DOS REMANESCENTES FLORESTAIS DA MATA ATLÂNTICA PERÍODO 2018 e 2019 — RELATÓRIO TÉCNICO.
[1] Fonte: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/hotspots-mundias.htm (acessado em 18/11/2020)
[2] Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. 2020, p. 35. ATLAS DOS REMANESCENTES FLORESTAIS DA MATA ATLÂNTICA PERÍODO 2018–2019 — RELATÓRIO TÉCNICO.
[3] No Projeto de Desenvolvimento Sustentável, há o compromisso em preservar o meio ambiente e gerar renda, com a produção de alimentos nos quintais produtivos, venda de cacau cabruca e coleta de sementes. Observa-se ainda, que o sistema florestal de cabruca, constitui-se com características preservacionistas, pode servir de habitat para muitas espécies e funcionar como corredor natural entre trechos da mata original
[5] Relatório técnico bianual elaborado através da fundação SOS Mata Atlântica, e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Fonte: ATLAS DOS REMANESCENTES FLORESTAIS DA MATA ATLÂNTICA. PERÍODO 2018–2019 RELATÓRIO TÉCNICO. Fundação SOS Mata Atlântica. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. São Paulo. 2020.